16 de maio de 2011

"Tom Jobim para violão solo" por Daniel Murray

Bons ventos para a música instrumental brasileira, trazidos pelo CD Tom Jobim para violão solo, do violonista Daniel Murray, um dos mais talentosos instrumentistas de sua geração. Lançamento do selo carioca Delira Música, o álbum é ao mesmo tempo simples, delicado e pujante, em digna homenagem à obra de Antônio Carlos Jobim.


Murray mescla composições mais consagradas de Tom, algumas gravadas por um número sem fim de intérpretes dos mais variados estilos, com peças que o grande público pouco conhece. O resultado dessa combinação é uma colcha de retalhos sonora, na qual a técnica inspirada do violonista é a linha que une as múltiplas facetas da obra do maestro.


Uma das redescobertas de Daniel Murray é Chora coração, contribuição de Tom e Vinicius de Moraes para a trilha sonora de Crônica da casa assassinada, filme de Paulo César Saraceni, de 1971. A interpretação do violonista é de uma simplicidade espartana, o que só realça a beleza da peça. Na mesma linha, o álbum nos brinda com Bate-boca (parceria com Chico Buarque),Antigua, tema instrumental de 1967, GarotoChanson pour Michelle e Tema para Ana, uma bem-humorada declaração de amor para Ana Jobim, viúva de Tom. Em todas, o músico faz uma leitura que realça as nuances, mas sem se deixar levar por arroubos de virtuosismo.

Mesmo ao interpretar músicas mais famosas do repertório jobiniano, Murray foge do lugar-comum e passa ao largo de composições revisitadas à exaustão. É uma escolha particular e extremamente bem-sucedida do intérprete, que desfila com sobriedade e elegância por Imagina(Valsa sentimental), Eu preciso de você, Por toda minha vida, Estrada brancaEu te amoA felicidade, Luíza Gabriela.

O traço comum a todas essas faixas é o despojamento de Daniel Murray, músico e compositor com formação erudita e contemporânea, reconhecido internacionalmente como solista e integrante de grupos de câmara. Ao optar por arranjos limpos, sem invencionices, o violonista consegue o feito duplo de realçar a amplitude de seu talento como intérprete e deixar fluir a riqueza harmônica e musical de Tom Jobim.
Por Álvaro Fraga, do Estado de Minas